TransPortugal CAS - 2014 em bicicleta - Fase 3 (Evora-Alfaiates - Monsaraz - Sagre - Lagos) em 2014-04-25 |
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Organização: Clube Amigos da Serra
Organização:
Clube
Amigos da Serra
Fernando Rui/ Valdemar Agonia (Team Extrawheel) e
Manuel Cruz
Objectivos e nota previa:
Esta foi a 3ª e ultima fase do Projecto TransPortugal em Btt em autonomia
total.
O Objectivo principal era à partida percorrer as tracks GPS até Sagres e foi
atingido.
Autonomia total foi o regime escolhido pois é aquele que embora mais
exigente física, técnica e psicologicamente constitui naturalmente maior
desafio, e porque nos permite a maior liberdade.
Este ano, no entanto, estivemos um pouco condicionados dada a grande
amplitude térmica constatada. Se durante o dia a temperatura subia por
vezes acima dos 20 graus, à noite descia dos 9.
Em algumas noites acampar poderia significar ficar doente e por consequência
condenar o objectivo da Travessia.
Exemplo é o da 2ª noite em Sta. Clara-a-aVelha que dormimos num palheiro que
inicialmente se revelou bastante aconchegador mas lá para o meio da
noite se converteu num autentico frigorifico. O frio da noite acabou por
se instalar fortemente perturbando assim o descanso da equipe e no meu
caso pessoal agravando a tosse que tinha aparecido duas semanas antes
por via de uma faringite virica.
Acampar ao relento, encarado normalmente como o mais natural, teve que ser
evitado, não houve outra hipótese.
Mas Autonomia Total é isto mesmo, é chocar constantemente com problemas e
através do improviso contorná-los.
Resumo da FASE 3 (Évora - Monsaraz - Sagres - Lagos)
Em autonomia total há um constante ciclo de acção-reacção.
Os problemas sucedem-se e em equipe tem que ser contornados. Esta é uma das
características essenciais deste regime o que faz com que sejamos
solicitados ao máximo; torna tudo muito mais interessante.
1º dia - 25 de Abril de 2014 - Évora - Monsaraz - Moura - 118.7 Km
O primeiro desafio sério foi chegar a Moura, destino da 1ª etapa, dado que
as ligações de comboio apenas nos garantiram chegar a Évora por volta
das 14 horas, com cerca de 100 Km para percorrer. No mínimo ambicioso...
Entretanto a noite já caíra. Um vento frio e cortante marcava presença, o
que tornou a chegada a Moura um desafio difícil de alcançar... mas
conseguimos!
2º dia - 26 de Abril de 2014 - Moura - Castro Verde - 103.06 Km
Mais uma etapa longa a cumprir rumo a Sagres, desta vez viríamos a enfrentar
um problema sério que nos iria atrasar (na realidade isso não é um
problema).
Quando passamos por uma simpática aldeia chamada Quintos a fome já apertava
e o corpo reclamava energia adicional para prosseguir.
Decisão unânime paramos para almoçar no Snack Bar Guadiana. Apesar de fora
de horas fomos atendidos com grande simpatia; a cozinha reabriu para nos
servir uma valente feijoada.
Após almoço fizemo-nos de novo ao caminho mas eis que recai sobre toda a
equipe o síndrome de lentidão Alentejano. Não teríamos feito mais que
uns 2 Km após almoço e já estávamos deitados num campo cumprindo uma
longa sesta...
Claro que já sabíamos quando esta factura iria ser paga... ao fim do dia,
claro está que chegamos já de noite a Castro Verde. Sem problema a
autonomia total é mesmo assim, liberdade sem compromissos!
3º dia - 27 de Abril de 2014 - Castro Verde - Sta. Clara-a-Velha -
81.12 Km
No 3º dia o objectivo era ir o mais longe possível tendo Aljezur em mira de
rota.
Assim ao final da tarde lá chegamos a Sta. Clara-a-Velha depois de cumprida
mais uma etapa sem grandes incidentes.
Poderíamos ter ido mais longe, a etapa correu bem, no entanto já sabíamos o
que dali a poucas horas iria acontecer. O Frio não tardaria a
instalar-se contrastando assim com o grande calor sentido durante o dia.
Antes de partir para esta fase da aventura fui alvo de uma faringite vírica
curada à pressão. O frio da noite despoletou-me de novo muita tosse pelo
que de manhã, as compras obrigaram a uma passagem pela farmácia. Também
protector solar teve que igualmente fazer parte do tratamento pois o Sol
durante o dia, por aquelas bandas, tornara-se muito agressivo...
4º dia - 28 de Abril de 2014 - Sta. Clara-a-Velha - Aljezur - 70.01
Km
Depois de uma noite de peripécias lá partimos rumo a Aljezur.
O arranque foi lento pois tudo estava frio, húmido ou congelado. Assim
tivemos que esperar pelos primeiros raios de Sol a fim de inverter esta
tendência.
Esperava-nos uma dura etapa. Um percurso talhado em forma de
"quebra-pernas". Tivemos ascensões muito fortes e longas, especialmente
para quem leva atrelado cerca de 20 Kg... mas enfim... é a vida de quem
anda nestas coisas... quem corre por gosto...
A determinada altura, principalmente no alto das serranias, notava-se já uma
aragem diferente, mais fresca, menos abafada que indiciava a proximidade
ao mar que aqui ou acolá entretanto já se via.
Ao final da tarde, mais um desafio vencido e lá chegamos a Aljezur!
5ª dia -
29 de Abril de 2014 - Aljezur - Sagres - 78.86
Km
Uma etapa relativamente curta que surpreendeu pois trouxe novos ingredientes
a esta fase como por exemplo transpor arribas na beira do precipício
após idas à praia. Igualmente a salientar que por via da topografia do
terreno, arribas, igualmente
foi mais um "quebra-pernas".
Nunca esperamos facilidades pelo que tranquilamente encaramos estas novas
realidades.
Como seria de esperar, agora já na vizinhança da Costa Atlântica,
forte ventania em forma de
Nortada marcou presença sendo por vezes nossa aliada outras vezes nem
por isso dependendo da nossa direcção e altimetria.
Ao final do dia, e depois de mais um dia de luta, lá chegamos a Sagres.
Dirigimo-nos apara Fortaleza pois foi o local que decidimos seria o nosso
términos oficial. Sagres é uma zona onde os ventos fortes predominam e
conforme esperado, o vento Norte, frio,
cercou-nos impedindo-nos de relaxar por ali mesmo.
Em termos de "track oficial" o percurso acabaria por aqui embora que para
nós, com um TransPortugal configurado à medida da condição de autonomia
total, acabou em Lagos onde por motivos de logística de regresso, acabou
na realidade.
6º e 7º dia -30 de Abril e 1 de Maio de 2014 - Sagres - Lagos,
recuperação e reorganização - 38.60 Km
Uma vez completado o percurso "oficial" a Team Extrawheel constituída por
Fernando Rui e Valdemar Agonia decidiu dedicar mais dois dias a
reorganizar o regresso e descansar um pouco da viagem. O Manuel Cruz por
falta de disponibilidade de tempo, veio de imediato para o Porto.
Fizemos praia, descansamos, lavamos as bicicletas e as roupas com detergente
da louça que se revelou eficaz pelo menos a fazer muita espuma. Não
tínhamos outro. O certo é que a roupa ficou lavada e essencialmente o
efeito "feios, porcos e maus" esvaneceu-se
definitivamente.
8º Dia - 2 de Maio de 2014 - O regresso
A esta data, mais descansados e com tudo mais asseadinho, decidimos voltar
ao "Mundo Real" sendo que regressamos a casa com a CP que em Tunes
decidiu por via de um revisor mal disposto deixar-nos apeados. Sendo que
um desafio só acaba quando regressamos a casa, este foi mais um percalço
a superar, nada de novo, esse é o nosso espírito!
A ideia foi, não deixar nada à vista que denunciasse as nossas bicicletas
nem atrelados. Rodas e alumínio não podiam ser vistos...
Agora já não trazíamos bicicletas mas sim umas coisas embrulhadas em sacos
pretos pelo que... nada a opor pela CP.
Para esperto... esperto e meio, e lá regressamos a casa a alta velocidade e
sem transbordos (pelo menos 222 Km/h o comboio deu).
Conclusões e notas finais:
Para nós o TransPortugal foi especificamente configurado para a nossa
condição de autonomia total. Decidimos que esse regime começaria para
cada um a partir do momento que sai de casa pelo que muitas ligações
foram feitas por bicicleta. Assim os tradicionais 1.150 Km da track
oficial foram convertidos para 1.559 Km.
Durante este evento, logo cedo se
conclui que há um outro Portugal que infelizmente continuará
desconhecido para muitos. Infelizmente porque Ele é lindo, acolhedor,
simpático... fantástico e vale a pena conhecer!
Esta ultima fase foi conforme esperado mais do mesmo em relação às outras.
Sabíamos à prior que para nós todas as dificuldades tradicionalmente
esperadas nestes desafios seriam exponencialmente amplificadas pelo
facto de termos atrelado a nós cerca de 20 Kg de autonomia total.
Desta forma a exigência global é potenciada ao máximo, e há que ter cuidados
adicionais com a bicicleta pois a mecânica é brutalmente agredida. A
salientar as enormes torções na traseira que se reflectem imenso na
coluna de direcção e condicionam a condução tornando-a extremamente
técnica. O atrelado não perdoa e quando a velocidade é exagerada ele
está sempre atento notificando-nos que, assim, quem manda é ele...
Há um constante dilema que tem de ser gerido que é um enorme desafio: as
subidas tem mesmo que ser lentas e todo o resto deve ser rápido; ao
final do dia o que conta é a velocidade media e a regularidade. Esta
situação traz enorme responsabilidade ao nível de hidratação, nutrição e
gestão de esforço.
Cada Serra foi vencida pela força, resistência e determinação. Outras
situações foram geridas através da nossa capacidade de improviso e
vontade de superar!
É por tudo isto, por sermos desafiados ao máximo que gostamos de o fazer
assim desta forma, em autonomia total.
Masoquismo?
Não, Aventura!
Até sempre!!!
T.C. – Presidente do Clube Amigos da Serra
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